sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Eu luminoso não sou

Eu luminoso não sou, nem sei que haja
Um poço mais remoto e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo do poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.

José Saramago
(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª edição)

Nenhum comentário:

Postar um comentário