sexta-feira, 31 de julho de 2009
Roda Viva
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
Chico Buarque
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Depois da Tempestadde a Bonança
depois do choro o sorriso
depois da chuva o arco-íris
Surpresa boa, desejo
alcançado, presente
maravilha
Melhor que flores
melhor que diamantes
melhor até que chocolate
Surpresa Boa
de quinta feira, sorriso
descrente, dúvidas
confirmação.
Desejo outrora impossível
agora realidade feliz
e marcante, novidade
radiante
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Dor
machucado de espinho
dói que nem passarinho
que caiu do ninho
Destrói corroendo o
pedaço que restou
do coração esfarelado
de tanto que doeu
O dia inteiro choveu
a noite inteira remexeu
a dor apareceu
no peito que morreu
terça-feira, 28 de julho de 2009
Magoada
conter-me em momentos de fúria
Explosivamente vou vomitando
palavras, desgovernadas
Impetuosa melodia desafinada
ruidos perturbadores, assustadores
Mente dolorída, remoendo fatos
relatos, atos, palavras...
Lavas incandescentes de insanidade
chamuscada, acinzentada
Assim estou
dia longo...
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Tudo Passa
Os gemidos da mão estremecida
Os brinquedos do tempo de criança
O sorriso fulgaz de uma esperança
E a primeira paixão da nossa vida.
O adeus que se da por despedida
E o desprezo que a gente não merece
O delirio da lagrima que desce
Um momento de angústia e de desgraça
Tudo passa, na vida tudo passa
Mas nem tudo que passa a gente esquece
Chico Pedrosa
Saudade
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.
Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.
Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.
Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.
A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.
Antonio Gonçalves da Silva
Patativa do Assaré
sexta-feira, 24 de julho de 2009
A Briga na Procissão
Quando Palmeira das Antas
pertencia ao Capitão
Justino Bento da Cruz
nunca faltou diversão:
vaquejada, cantoria,
procissão e romaria
sexta-feira da paixão.
Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
no salão paroquial
reunia os moradores
e depois de uma preleção
ao lado do Capitão
escalava a seleção
de atrizes e atores
O papel de cada um
o Capitão escolhia
a roupa e a maquilagem
eram com Dona Maria
e o resto era discutido,
aprovado e resolvido
na sala da sacristia.
Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos
só não mudavam a cruz,
o verdugo e os maus-tratos,
o Cristo daquele ano
foi o Quincas Beija-Flor,
Caifaz foi o Cipriano,
e Pilatos foi Nicanor.
Duas cordas paralelas
separavam a multidão
pra que pudesse entre elas
caminhar a procissão.
Cristo conduzindo a cruz
foi não foi advertia
o centurião perverso
que com força lhe batia
era pra bater maneiro
mas ele não entendia
devido um grande pifão
que bebeu naquele dia
do vinho que o capelão
guardava na sacristia.
Cristo dizia: “Ôh, rapaz,
vê se bate devagar
já tô todo encalombado,
assim não vou agüentar
tá com a gota pra doer,
ou tu pára de bater
ou a gente vai brigar.
Eu jogo já esta cruz fora
tô ficando revoltado
vou morrer antes da hora
de ficar crucificado”.
O pior é que o malvado
fingia que não ouvia
além de bater com força
ainda se divertia,
espiava pra Jesus
fazia pouco e dizia:
"Que Cristo frouxo é você,
que chora na procissão
Jesus pelo que se sabe
não era mole assim não.
Eu tô batendo com pena,
tu vai ver o que é bom
é na subida da ladeira
da venda de Fenelon
que o couro vai ser dobrado
até chegar no mercado
a cuíca muda o tom".
Naquele momento ouviu-se
um grito na multidão
era Quincas que com raiva
sacudiu a cruz no chão
e partiu feito um maluco
pra cima de Bastião.
Se travaram no tabefe,
ponta-pé e cabeçada
Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada
deram um bofete em Caifaz
que até hoje não faz
nem sente gosto de nada.
Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado,
acertaram um cocorote
na careca de Timóti
que até hoje é aluado.
Até mesmo São José,
que não é de confusão
na ânsia de defender
o filho de criação
aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.
A briga só terminou
quando o Doutor Delegado,
interviu e separou
cada Santo pra seu lado.
Desde que o mundo se fez,
foi essa a primeira vez
que Cristo foi pro xadrez,
mas não foi crucificado.
Chico Pedrosa
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Desilusão
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.
Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.
Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,
Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança
Patativa do Assaré
é grande demais para mim, e inda bebo no copo
dos outros.
Sei construir teorias engenhosas. Quer ver ?
A poética está muito mais atrasada que a música.
Esta abandonou, talvez no século 8, o regime da melodia quando muito oitavada, para enriquecer-se
com os infinitos recursos da harmonia. A poética,
com rara exceção até meados do século 19 francês,
foi essencialmente melódica. Chamo de verso melódico o mesmo que melodia musical:
arabesco horizontal de vozes (sons) consecutivas,
contendo pensamento inteligível.
Mário de Andrade
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Mário de Andrade
Migrante
- Nesse teu rosto encardido
passaram metros de tempo.
Passaram metros de estrada
na aspereza dos teus pés.
ficaram ranchos vazios:
nas rachaduras da pele
a rachadura dos rios.
Nos solavancos do carro
o gesto da noite insone.
No rosto dos companheiros
a certeza de ninguém.
Na terra sempre distante
a terra que tu não tens.
Quem dera que essa viagem
fosse te levando assim,
no desconforto do carro,
que é posse precária, enfim.
Quem dera que essa viagem
jamais te levasse ao fim.
Maria Helena Carneiro Catunda
terça-feira, 21 de julho de 2009
Os Poemas
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Identidade
Tive berços de terra.
Sorvi arroios
em seios de pedrra.
Colhi no vento
lições de infância.
Deitei-me - verde - na oferta virgem
aos beijos de sol.
me fiz estrada.
Barros macios de longas chuvas,
eu trago as marcas dos meus próprios pés.
Tão profundas!
Quem as pisou comigo?
E grão de areia
na praia humana,
perdi arestas.
Que a onda me lave
este rosto mudado,
integrado
no areal.
Maria Helena Carneiro Catunda
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Enquanto Vocês Dormiam
Não tão indesejadas
quanto você poderia ser
Deixe que vão embora
Podem multiplicar-se
Porque vão cedo
Por que vão cedo?
Enquanto vocês dormiam
eu rezava pra chuva passar
Carlos Gomes
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Uma Madrugada
Uma madrugada, tudo quieto,
impera a treva. A solidão escuto,
vislumbro véus de crepe no horizonte
da Natureza amarfanhada em luto.
Um pássaro noturno, depenado,
pousa num galho já se despencando
de uma roseira que na dá mais rosas ou, se elas nascem, nascem já murchando.
E, do relógio branco da parede, as setas apontadas para mim
afirmam que esta miserável noite
parou no tempo e nunca terá fim.
Alda Pereira Pinto
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Minha voz tem um vício de fontes.
Eu queria avançar para o começo.
Chegar ao criançamento das palavras.
Lá onde elas ainda urinam na perna.
Antes mesmo que sejam modeladas pelas mãos.
Quando a criança garatuja o verbo para falar o que
não tem.
Pegar no estame do som.
Ser a voz de um lagarto escurecido.
Abrir um descortínio para o arcano.
Manoel de Barros
Aos Poetas Clássicos
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.
No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.
Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.
Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.
Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.
Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.
Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.
Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.
Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.
Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.
Antonio Gonçalves da Silva dito Patativa do Assaré
terça-feira, 14 de julho de 2009
O Vaqueiro
Dêrne munto pequenino,
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhô.
Eu nasci pra sê vaquêro,
Sou o mais feliz brasilêro,
Eu não invejo dinhêro,
Nem diproma de dotô.
Sei que o dotô tem riquêza,
É tratado com fineza,
Faz figura de grandeza,
Tem carta e tem anelão,
Tem casa branca jeitosa
E ôtas coisa preciosa;
Mas não goza o quanto goza
Um vaquêro do sertão.
Da minha vida eu me orgúio,
Levo a Jurema no embrúio
Gosto de ver o barúio
De barbatão a corrê,
Pedra nos casco rolando,
Gaios de pau estralando,
E o vaquêro atrás gritando,
Sem o perigo temê.
Criei-me neste serviço,
Gosto deste reboliço,
Boi pra mim não tem feitiço,
Mandinga nem catimbó.
Meu cavalo Capuêro,
Corredô, forte e ligêro,
Nunca respeita barsêro
De unha de gato ou cipó.
Tenho na vida um tesôro
Que vale mais de que ôro:
O meu liforme de côro,
Pernêra, chapéu, gibão.
Sou vaquêro destemido,
Dos fazendêro querido,
O meu grito é conhecido
Nos campo do meu sertão.
O pulo do meu cavalo
Nunca me causou abalo;
Eu nunca sofri um galo,
pois eu sei me desviá.
Travesso a grossa chapada,
Desço a medonha quebrada,
Na mais doida disparada,
Na pega do marruá.
Se o bicho brabo se acoa,
Não corro nem fico à tôa:
Comigo ninguém caçoa,
Não corro sem vê de quê.
É mêrmo por desaforo
Que eu dou de chapéu de côro
Na testa de quarqué tôro
Que não qué me obedecê.
Não dou carrêra perdida,
Conheço bem esta lida,
Eu vivo gozando a vida
Cheio de satisfação.
Já tou tão acostumado
Que trabaio e não me enfado,
Faço com gosto os mandado
Das fia do meu patrão.
Vivo do currá pro mato,
Sou correto e munto izato,
Por farta de zelo e trato
Nunca um bezerro morreu.
Se arguém me vê trabaiando,
A bezerrama curando,
Dá pra ficá maginando
Que o dono do gado é eu.
Eu não invejo riqueza
Nem posição, nem grandeza,
Nem a vida de fineza
Do povo da capitá.
Pra minha vida sê bela
Só basta não fartá nela
Bom cavalo, boa sela
E gado pr’eu campeá.
Somente uma coisa iziste,
Que ainda que teja triste
Meu coração não resiste
E pula de animação.
É uma viola magoada,
Bem chorosa e apaxonada,
Acompanhando a toada
Dum cantadô do sertão.
Tenho sagrado direito
De ficá bem satisfeito
Vendo a viola no peito
De quem toca e canta bem.
Dessas coisa sou herdêro,
Que o meu pai era vaquêro,
Foi um fino violêro
E era cantadô tombém.
Eu não sei tocá viola,
Mas seu toque me consola,
Verso de minha cachola
Nem que eu peleje não sai,
Nunca cantei um repente
Mas vivo munto contente,
Pois herdei perfeitamente
Um dos dote de meu pai.
O dote de sê vaquêro,
Resorvido marruêro,
Querido dos fazendêro
Do sertão do Ceará.
Não perciso maió gozo,
Sou sertanejo ditoso,
O meu aboio sodoso
Faz quem tem amô chorá.
Antonio Gonçalves da Silva dito Patativa do Assaré
Desmotivada
Me falta inspiração
Talvez seja cansaço, ou tédio
Sem graça, incolor, insípida
Pra onde foram as letras
Esconderam - se de mim
Fugiram as palavras
Doces companheiras de tantas horas
Frases, textos esvaíram sem dizer adeus
Incapaz
Desmotivada
Sem palavras
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Aquele Outro não Via...
Aquele outro não via minha muita amplidão
Nada lhe bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Desejando um desejo vizinhante
De uma fome irada e obsessiva?
Hilda Hislt
Nua
sem que eu nem perceba...
E quando nua
por incrível que pareça
sou mais pura...
Porque vou ao teu encontro
despojada de critérios...
liberto os mistérios
sem perder o encanto
do prazer...
Porque
quando nua
sou única
e exclusivamente
tua...
Isabel Machado
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Nas praias da Pituba
Sentindo o calor do Sol
Ouvindo o som das ondas
Ao fundo no quiosque
Chiclete com Banana
A linda voz de Bel Marques
A embalar meus sonhos
Olhar a imensidão do mar
Bebendo água de coco
Sem jamais imaginar
O que viria a seguir
Saudades ficaram
no peito, na memória
Saudades dos dias
em que fiquei cercada
De parentes queridos
Tias, tios, primos e primas
A distância separa nossos
corpos, mas vocês estão
em meu coração
Salvador minha cidade natal
cidade ancestral
saudades do seu calor
e da sua alegria
Bahia terra de encantos
e magia, Salvador
cidade da alegria
Saudade, saudade
Quatro Estações
Se abriram para te ver
Volta pra mimEsquece tudo
Sente o perfume da manhã
Vê se tenta me entender
Que seja assim
Nosso prazer
Todas as quatro estações
Esperam por nós dois
O universo das paixões
Calor e frio
A confundir o antes e o depois
Eu acordei nessa manhã
Procurando por você
Volta pra mim
Esquece tudo
Flores enfeitando maçãs
Eu guardei pra oferecer
Que seja assim
Nosso prazer
Todas as quatro estações
Esperam por nós dois
O universo das paixões
Calor e frio
A confundir
O antes e o depois
Pega a minha mão
E pensa no luar
Deixa tudo acontecer
Bem devagar
Eu acordei nessa manhã
Procurando por você
Volta pra mim
Esquece tudo
Flores enfeitando maçãs
Eu guardei para oferecer
Que seja assim
Nosso prazer
Que seja assim
Nosso prazer
Maurício Gaetani, Ari Sperling e Cláudio Rabello
terça-feira, 7 de julho de 2009
Deixa o Verão
Espere eu considerar
Ver se eu vou assim chique à vontade
Igual ao tom do lugar
Enquanto eu penso você sugeriu
Um bom motivo pra tudo atrasar
E ainda é cedo pra lá
Chegando às 6 tá bom demais
Deixa o verão pra mais tarde
Deixa
Deixa o verão
Deixa o verão pra mais tarde
Não to muito afim de novidade
Fila em banco de bar
Considere toda hostilidade
Que há da porta pra lá
Enquanto eu fujo você preparou
Qualquer desculpa pra gente ficar
E assim a gente não sai
Esse sofá ta bom demais
deixa o verão pra mais tarde
Deixa
Deixa o verão
Deixa o verão pra mais tarde
Rodrigo Amarante
A Fada Azul
tece vento e o ar rodopia
põe no colo os bichos das ruas
põe no chão quem quer correria
põe as mãos de alguém entre as suas
e é o nascer de um sol, mais um dia
Do aroma rosa da arte
ela extrai a cor da alegria
do lilás do olhar de quem parte
faz o azul de quem ficaria
do vermelho ardor do estandarte
o nascer de um sol, mais um dia
Tem a solidão do poeta
a paixão da chuva tardia
escultora da linha reta
que a luz percorre e esta via
salta do seu olho, é uma seta
é o nascer do sol, mais um dia
São brilhos de estrelas na perna
e a noite que a estrela anuncia
a paixão é estranha caverna
quem tem medo e amor já sabia
uma noite nunca é eterna
é o nascer do sol, mais um dia
Ela pisa as ruas do tempo
já foi louca, princesa e Maria
faz de azul mais que cor, sentimento
mina d'água, azul, poesia
faz soar as rimas que invento
e é o nascer do sol, mais um dia
Oswaldo Montenegro
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Fome de Tudo
Com fome de tudo
Passando por cima de tudo e de todos
A fome universal sempre querendo tudo
E com o tempo inteiro a seu favor
Um pulo nessa imensidão de famintos
Sem leite nem pra pingar no expresso do dia
Não vejo a hora de comer já salivando
O estômago fazendo a festa em alto volume
Daqui da fome dá pra ver o que acontece
A fome tem uma saude de ferro
Forte, forte como quem come
Sem fastio
Com fome de tudo
A única verdade debaixo desse sol
Em carne viva se apresenta
Ninguém quer comer agora
Pro gosto chegar depois
Daqui dá fome dá pra ver
A fome tem uma saude de ferro
Forte, forte como quem come
Nação Zumbi
Quando A Gente Ama
Que a paixão não é loucura
Mesmo que pareça
Insano acreditar
Me apaixonei por um olhar
Por um gesto de ternura
Mesmo sem palavra
Alguma pra falar
Meu amor,a vida passa num instante
E um instante é muito pouco pra sonhar
Quando a gente ama,
Simplesmente ama
É impossível explicar
Quando a gente ama
Simplesmente ama!
Marcelo Barbosa Barreti / Nil Bernardes / Fábio Caetano
domingo, 5 de julho de 2009
Feira de Mangaio
Eu tenho tudo pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar
Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra maria do joá
Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra maria do joá
Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de candeeiro panela de barro
Menino vou me embora tenho que voltar
Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar
Porque tem um sanfoneiro no cato da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar
Mas é que tem um snfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar
Sivuca
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecília Meireles
Todo Mundo é Lobo por Dentro (Petulante)
acho que sou sim, viu?c
omo a água que desce a cachoeira
e não pergunta se pode passar
você me disse que meu olho é duro como faca
acho que é sim, viu?como é duro o tronco da mangueira
onde você precisa se encostar
você me disse que eu destruo sempre
a sua mais romântica ilusão
e destruo sempre com minha palavra
o que me incomodou
acho que é sim
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?
Oswaldo Montenegro
Fragmentos
Muros castos e tristes
Cativos de si mesmos
Como criaturas que envelhecem
Sem conhecer a boca
De homens e mulheres.
Muros Escuros, tímidos:
Escorpiões de seda
No acanhado da pedra.
Danosas, se tocadas.
Como a tua própria boca, amor,
Quando me toca...
Hilda Hilst
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Dó de Mim
Caso você for, não me diga adeus
Deixe pra amanhã, tenha dó de mim
Não olhe pra trás, que eu não quero ver
Quando o seu olhar me fitar e estremecer
Se a solidão vier me procurar
Digo que não estou, por não resistir
Quanto tempo mais tenho que esperar
Pra que você possa vir me perdoar
Sem você eu nada sei, esqueço de lembrar
Como que se faz pra adormecer
Vou morrer só de pensar, de você pensar que é o fim
Agora diz quem vai cuidar de mim
Se você voltar ressuscitarei
Sairei do breu, pra me redimir
Que é que eu vou fazer se dependo de você
Pra viver e ser feliz
Péri
Céu de Santo Amaro
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu
Com ela veio a paz, toda a beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você
Meu amor
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei
Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor nos invadiu
Então
Veio a certeza de amar você
Flávio Venturini
Confissão
Cresce este meu desejo de hora em hora...
Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,
O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...
Abrir-lhe o incerto coração que chora,
Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,
Agora embravecida e mansa agora...
E é num arroubo em que a alma desfalece
De sonhá-la prendada e casta e clara,
Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...
Mas ela chega, e toda me parece
Tão acima de mim...tão linda e rara...
Que hesito, balbucio e me acovardo.
Manuel BandeirA
A Estrela
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Lunzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
Manuel Bandeira